31 de março de 2014

Da Salvação de Nossa Alma Santo Afonso Maria de Ligório



« A salvação eterna não é só o mais importante,
senão o único negócio que nesta vida nos impende »
(Lc 10,42)



« A salvação eterna não é só o mais importante,
senão o único negócio que nesta vida nos impende »
(Lc 10,42)

O negócio da eterna salvação é, sem dúvida, o mais importante, e, contudo, é aquele de que os cristãos mais se esquecem!.

Não há diligência que não se efetue, nem tempo que não se aproveite para obter algum cargo, ganhar uma demanda, ou contratar tal casamento... Quantos conselhos, quantas precauções se tomam! Não se come, não se dorme!...E para alcançar a salvação eterna? O que se faz?

Nada se costuma fazer; ao contrário, tudo o que se faz é para perdê-la, e a maior parte dos cristãos vive como se a morte, o juízo, o inferno, a glória e a eternidade não fossem verdades de fé, mas apenas fábulas inventadas pelos poetas.

Quanta aflição quanto se perde um processo ou uma colheita e quanto cuidado para reparar o prejuízo!... Quando se extravia um cavalo ou um cão, quantas diligências para encontrá-los. Muitos perdem a graça de Deus, e entretanto dormem, riem e gracejam!...

“Mas vós, disse São Paulo, vós, meus irmãos, pensai unicamente no magno assunto de vossa salvação, pois constituiu o negócio da mais alta importância”. É, sem contestação, o negócio mais importante, porque é das mais graves conseqüências, em vista de se tratar da alma, e, perdendo-se esta, tudo está perdido. Devemos estimar a alma – disse São João Crisóstomo, como o mais precioso dos bens. Para compreender esta verdade, basta considerar que Deus sacrificou seu próprio Filho à morte para salvar nossas almas (Jo 3,16). O Verbo Eterno não vacilou em resgatá-las com seu próprio sangue (I Cor 6,20).

Daí esta palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Que dará o homem em troco de sua alma?” (Mt 16,26). Se tem tamanho valor a alma, qual o bem do mundo que poderá dar em troca o homem que a vem a perder?

Razão tinha São Filipe Neri em chamar de louco o homem que não trabalhava na salvação de sua alma. Se houvesse na terra homens mortais e homens imortais e aqueles vissem estes se aplicarem afanosamente às coisas do mundo, procurando honras, riquezas e prazeres terrenos, dizer-lhes-iam sem dúvida: « Quanto sois insensatos! Podeis adquirir bens eternos e só pensais nas coisas miseráveis e passageiras, condenando-vos a penas eternas na outra vida!... Deixai-os, pois, nesses bens s´´o devem pensar os desventurados que, como nós, sabem que tudo se acaba com a morte!... ». Isto, porém, não é assim: todos somos imortais...

A salvação eterna não é só o mais importante, senão o único negócio que nesta vida nos impende (Lc 10,42). “Que aproveita ao homem, disse o Senhor, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mt 16,26).

Se tu te salvas, meu irmão, nada importa que no mundo hajas sido pobre, perseguido e desprezado. Salvando-te, acabar-se-ão os males e serás feliz por toda a eternidade. Mas se te enganares e te perderes, de que te servirá no inferno haveres desfrutado de todos os prazeres do mundo, teres sido rico e cortejado? Perdida a alma, tudo está perdido: honras, divertimentos e riquezas.

Dirá Deus para ti no dia do Juízo, que coloquei-te neste mundo não para divertir-se, nem enriquecer, nem adquirir honras, senão para salvar sua alma, infelizmente a tudo tu atendeste, menos à salvação de tua alma!

Os mundanos não pensam no presente e nunca no futuro. Este é o único negócio, porque só temos uma alma. “Com receio e com tremor, trabalhai na vossa salvação” (Fl 2,12). Quem não receia nem teme perder-se não se salvará, porque para se salvar é preciso trabalhar e empregar violência (Mt 11,12).

Negócio importante, negócio único, negócio irreparável. Não há falta que se possa comparar, diz Santo Eusébio, ao desprezo da salvação eterna. Todos os demais erros podem ter remédio.

Perdido os bens, é possível readquirir outros por meio de novos trabalhos. Perdido um emprego, pode ser recuperado. Ainda no caso de perder a vida, se salvar a alma, tudo está preparado. Mas, para quem, se condena, não há possibilidade de remédio. Morre-se uma vez, e perdida uma vez a alma, está perdida para sempre.

Só restará o pranto eterno com os outros míseros insensatos do inferno, cuja pena e maior tormento consiste em pensar que para eles já não há mais tempo de remediar sua desdita (Jr 8,20). qual não seria o pesar daquele, que, tendo podido prevenir e evitar com pouco esforço a ruína de sua casa, a encontrasse um dia desabada, e só então considerasse seu descuido, quando não houvesse já remédio possível?

E se alguém objetar: Mesmo que cometa este pecado, porque ei de condenar-me?... Acaso, não poderei salvar-me? Responder-lhe-ei: Também pode ser que te condenes. Ainda direi que até há mais probabilidade em favor de tua condenação, porque a Sagrada Escritura ameaça com este tremendo castigo os pecadores obstinados, como tu o és neste instante. “Ai dos filhos que desertam!” (Is 30,1), diz o Senhor. “Ai daqueles que se afastam de mim” (Os 7,13).

E não pões ao menos, com esse pecado cometido, a tua salvação eterna em grande perigo e grande incerteza? E qual é esse negócio que assim se pode arriscar? Não se trata de uma casa, de uma cidade, de um emprego; trata-se, diz São João Crisóstomo, de padecer uma eternidade de tormentos e de perder um paraíso de delícias. E esse negócio, que tanto te deve importar, queres arriscá-lo por um “talvez”? Acaso, esperas que Deus aumente para ti suas luzes e suas graças depois que tu hajas aumentado ilimitadamente tuas faltas e pecados?

O dia da morte é chamado o dia da perda, porque perdermos as honras, as riquezas e os prazeres, enfim, todos os bens terrenos. Por esta razão diz Santo Ambrósio que não podemos chamar nossos, esses bens, porque não podemos levá-los conosco para o outro mundo; somente as virtudes nos acompanham para a eternidade.

“De que serve, pois, ganhar o mundo inteiro, se à hora da morte, perdendo a alma, tudo perde?”... Oh! Quantos jovens, penetrados desta grande máxima, resolveram entrar na clausura! Quantos anacoretas conduziu ao deserto! A quantos mártires moveu a dar a vida por Cristo!

Por meio destas máximas soube Santo Inácio de Loyola chamar para Deus inúmeras almas, entre elas a alma formosíssima de São Francisco Xavier que, residindo em Paris, ali se ocupava em pensamentos mundanos. “Pensa, Francisco, lhe disse um dia o Santo, pensa que o mundo é traidor, que promete e não cumpre; mas ainda que cumprisse o que promete, jamais poderia satisfazer teu coração. E supondo que o satisfizesse, quanto tempo poderá durar essa felicidade? Mais que tua vida? E no fim dela, levarás tua dita para a eternidade? Existe, porventura, algum poderoso que tenha levado para o outro mundo uma moeda sequer ou um criado para seu serviço?...” Movido por estas considerações, São Francisco Xavier renunciou ao mundo, seguiu Santo Inácio de Loyola e se tornou um grande santo.

É mister pesar os bens na balança de Deus e não na do mundo, que é falsa e enganadora (Os 12,7). Os bens do mundo são desprezíveis, não satisfazem e acabam depressa. “Meus dias passaram mais depressa que um correio; passaram como um navio...” (Jo 9,25)

Passam e fogem velozes os breves dias desta vida; e o que resta por fim dos prazeres terrenos? Passaram como navios. O navio não deixa vestígio de sua passagem (Sb 5,10).

“O tempo é breve...os que se servem do mundo, sejam como se dele não se servissem, porque a figura deste mundo passa...” (I Cor 7,31). Procuremos, pois, viver de maneira que à hora de nossa morte não se nos possa dizer o que se disse ao néscio mencionado no Evangelho: “Insensato, nesta noite há de exigir de ti a entrega de tua alma; e as coisas que juntaste, para que serão?” (Lc 12,20). E logo acrescenta São Lucas: “Assim é que sucede a quem enriquece para si, e não é rico aos olhos de Deus” (Lc 12,21).

Mais adiante diz: “Procurai entesourar para o céu, onde não chegam os ladrões nem rói a traça” (Mt 6,20).

Façamos, pois todo o esforço para adquirir o grande tesouro do amor divino. “Que possui o rico, se não tem caridade? E se o pobre tem caridade, o que não possui?”, diz Santo Agostinho. Quem possui todas as riquezas, mas não possui a Deus, é o mais pobre do mundo. Mas o pobre que possui a Deus possui tudo... E quem é que possui a Deus? Aquele que o ama. “Quem, permanece na caridade, em Deus permanece, e Deus nele” (I Jo 4,16)

30 de março de 2014

JACAREÍ, 30.03.2014 -MENSAGEM DE NOSSA SENHORA - 253ª AULA DA ESCOLA DE SANTIDADE E AMOR DE NOSSA SENHORA - TRANSMISSÃO DAS APARIÇÕES DIÁRIAS AO VIVO VIA INTERNET NA WEBTV MUNDIAL:WWW.APPARITIONSTV.COM


ASSISTA O VÍDEO DESTE CENÁCULO:
(AGUARDE)



JACAREÍ, 30 DE MARÇO DE 2014
253ª AULA DA ESCOLA DE SANTIDADE E AMOR DE NOSSA SENHORA
TRANSMISSÃO DAS APARIÇÕES DIÁRIAS AO VIVO VIA INTERNET NA WEBTV MUNDIAL: WWW.APPARITIONSTV.COM
MENSAGEM DE NOSSA SENHORA


(Maria Santíssima): “Amados filhos Meus, hoje, novamente venho chamar-vos à Oração, à Penitência e à Conversão. Estas Aparições Aqui em Jacareí são as últimas para a humanidade, é o último chamado, a última chance que Deus dá ao mundo inteiro.
Aproveitai este tempo para vos converterdes sinceramente e voltardes a Deus pelo caminho da Oração, da Renúncia ao pecado e às seduções deste mundo.
Caminhai na esteira luminosa que Eu vos mostro Aqui nas Minhas Mensagens, para que sejais grandes Santos e para que possais realizar perfeitamente a santa vontade de Deus.
Caminhai na senda luminosa que Eu vos mostro nas Minhas Mensagens, que é a esteira, a senda, da Oração. Da Oração que vos levará a viver cada vez mais com Deus, em Deus e por Deus, a Oração com o coração que vos eleva e une com o Senhor.
Pela esteira, pela senda do Sacrifício, que vos levará a fazer e a sofrer tudo por Deus com amor, tudo pela salvação das almas com amor.
Segui-Me pela esteira, pela senda da Penitência, que vos levará a sentir verdadeira dor dos vossos pecados e a procurar de todos os modos repará-los e não mais torna-los a cometer. Então, vós seguireis pelo caminho da salvação que vos conduzirá ao Céu até Deus.
O tempo se esgota, não há mais tempo a perder com coisas efêmeras, com coisas banais, ocupai-vos do negócio da vossa salvação, porque ele é o mais importante de toda a vossa vida.
Vede os mundanos, quando perdem dinheiro, quando perdem algum bem, uma casa, um carro, como se impacientam, como empreendem todos os esforços para recuperar os seus bens perdidos. Somente para com a própria alma é que os homens não se preocupam, somente com a própria alma é que os homens não tem a mesma solicitude e empenho para poder salvá-la.
Por isso venho dizer-vos; ocupai-vos no negócio de vossa salvação, colocai-o em primeiro lugar nas vossas vidas, para que verdadeiramente a vossa existência no final seja uma existência vitoriosa. Ou seja, que valha a pena, porque de nada vos valerá serdes ricos, serdes famosos, serdes cortejados ou amados pelos outros se vierdes a perder a vossa alma e fazê-la cair eternamente no fogo do inferno.
Por isso, trabalhai pela salvação das vossas almas em primeiro lugar para que a vossa existência seja valiosa e o seu valor se perpetue por toda a eternidade no Céu e na Terra levando muitos outros, milhares de outras almas pelo mesmo caminho da conversão, da santificação, pelo caminho do perfeito amor a Deus.
Eu vos amo muito e estou convosco em todos os vossos sofrimentos e dificuldades. Continuai a rezar todas as Orações que vos dei Aqui, rezai-as porque por meio delas vos conduzirei pelo caminho que vos levará até Deus.
E não vos esqueçais nunca: Sou a vossa Mãe, mas um dia serei a vossa Juíza. Por isso, convertei-vos sem demora e voltai até Deus.
Vinde a Mim agora que posso dar-vos todas as graças para a vossa salvação, pedi essas graças a Mim e Eu não negarei nenhuma a vós. Tudo o que necessitardes pedi ao Meu Coração Imaculado, pedi ao Sagrado Coração do Meu Filho, pelos merecimentos de Minhas Lágrimas, de Minhas Dores, do Meu Rosário e tudo vos será dado.
A todos abençoo de Caravaggio, de Savona e de Jacareí.

A Paz Meus filhos, a Paz Marcos, o mais esforçado e obediente dos Meus Servos”



INSCREVA-SE NA CRUZADA DO ROSÁRIO
CLIQUE NO LINK ABAIXO:
www.facebook.com/Apparitionstv/app_160430850678443


WEBTV DA ESCOLA DE SANTIDADE DE NOSSA SENHORA:

www.apparitionstv.com
www.facebook.com/Apparitionstv
www.aparicoesdejacarei.com.br


Próximas transmissões das Aparições Diárias de Nossa Senhora AO VIVO direto do Santuário das Aparições de Jacareí ,
De Segunda a Sexta-feira às 21:00h
Aos Sábados, 14:00h
Aos Domingos, 09:00h
(horário de Brasília)

Next LIVE Daily Apparitions' broadcast direct from the Apparitions Shrine of Jacareí
Week days - 09:00 PM
On Saturdays - 02:00 PM
On Sundays - 09:00 AM
(GMT- 03:00)

27 de março de 2014

Da vocação Religiosa - Santo Afonso Maria de Ligório





Santo Afonso Maria de Ligório (27/09/1696 - 02/08/1787)
Doutor Zelosíssimo da Igreja


Da vocação Religiosa

« Levá-lo-ei ao deserto
e lhe falarei ao coração »
(Os 2,14)

Quanto importa seguir a vocação para a vida religiosa

“Na antiga Lei, os israelitas eram o povo eleito e querido de Deus, em oposição aos egípcios; e na Lei nova o mesmo se dá com os religiosos em relação aos seculares. Como os israelitas saíram do Egito, terra de trabalhos e escravidão, onde Deus não era conhecido; assim os religiosos saem do mundo, que paga seus servidores com amarguras e enfados, e onde Deus é pouco conhecido; assim os religiosos saem do mundo, que paga seus servidores com amarguras e enfados, e onde Deus é pouco conhecido. Assim como os israelitas, no deserto, foram guiados à terra da promissão por uma coluna de fogo, assim também os religiosos são conduzidos pela luz do Espírito Santo no caminho de sua vocação ao estado religioso, que muito se assemelha à terra prometida.

Notemos que o estado religioso é semelhante não só à terra prometida, que figurava o céu, mas ainda ao mesmo céu. Com efeito, no céu não há desejos das riquezas terrenas, nem dos prazeres dos sentidos, nem da própria vontade; e no estado religioso, os votos de pobreza, castidade e obediência fecham a porta a essas cobiças perniciosas.

No céu não há outra ocupação que louvar a Deus; e o mesmo se dá no estado religioso, onde tudo que se faz se refere ao louvor de Deus. No Céu, enfim, goza-se de uma paz contínua, porque os bem-aventurados encontram em Deus todos os bens; e no estado religioso, onde não se busca senão a Deus, encontra-se aquela paz que excede todas as delícias e satisfações que o mundo pode oferecer.

Depois do batismo, a vocação ao estado religioso é a maior graça que Deus pode fazer a uma criatura, razão por que se deve estimar o estado religioso mais que todas as grandezas e todos os reinos do mundo.

É verdade indiscutível que a nossa eterna salvação do estado. O Padre Granada chamava à eleição do estado a roda mestra da vida. Assim como nos relógios descentrada a roda mestra, anda mal todo o relógio; assim também no negócio da salvação.

Na eleição do estado, se queremos assegurar a salvação eterna, é mister que sigamos a vocação divina, pois só assim nos concede Deus o auxílio necessário para alcançar a bem-aventurança.

E esta asserção é corroborada por São Cipriano de Cartago que afirma: « A virtude do Espírito Santo não é dada segundo o nosso arbítrio, mas segundo a sua vontade ». Por isso diz São Paulo: “Cada um recebe de Deus o próprio dom” (I Cor 7,7). E isto quer dizer, como explica Cornélio a Lápide, que Deus talha a cada um a sua vocação e lhe assinala o estado em que o quer salvar.

Esta doutrina conforma-se perfeitamente com a ordem da predestinação descrita pelo mesmo Apóstolo: “E aos que predestinou, a esses também justificou” (Rm 8,30). Forçoso é admitir que o problema da vocação no mundo é pouco compreendido por alguns; parece-lhes que é o mesmo viver no estado por inclinação própria. É por esse motivo que tantos levam vida desordena e se condenam. É, porém, matéria que não sofre discussão: a eleição do estado é o ponto cardeal para a conquista da vida eterna. A vocação sucede a justificação, à justificação a glorificação, isto é a vida eterna. Quem altera esta ordem e desfaz esta cadeia, não se salvará! No meio de todas as fadigas e trabalhos a que se sujeitar, ouvirá sempre a voz de Santo Agostinho a lhe dizer: “Corres bem, mas fora do caminho”; quer dizer, não vai pelo caminho por onde Deus queria que fosses para alcançares a salvação.

O Senhor não aceita os sacrifícios que lhe são oferecidos segundo a vontade própria. Mas a Caim e seu presente não viu com bons olhos (Gn 4,5). Mais ainda: O Senhor comina severos castigos aqueles que voltam as costas aos seus chamamentos para seguirem os conselhos da própria inclinação.
Ai dos filhos rebeldes! Declara o Senhor. “Querem realizar um desígnio mas não o meu” (Is 30,1)

É que o chamamento a um estado de vida mais perfeito é graça especial e muito grande que Deus não faz a todas as almas; razão tem, pois, de se indignar contra quem o despreza. Não se sentiria ofendido um príncipe que, convidando um vassalo a servi-lo de mais perto, a ser seu privado, recebesse dele uma recusa? E Deus não se ressentirá? Ressente, sim, e ameaça, como se lê em Isaías (Is 45,9): “Ai daquele que litiga com o Criador”. A palavra Ai significa na Escritura perdição eterna. Começará já nesta vida o castigo do desobediente; viverá sempre inquieto, como diz Jó: “Quem se lhe opôs que se saísse ileso?” (Jo 9,4).

Ver-se-á, além disso, privado do auxílio abundante e eficaz para viver bem.

São do mesmo parecer São Bernardo, São Leão Magno e São Gregório Magno, escrevendo ao imperador Maurício, que por édito proibira que os soldados entrassem em religião, lhe disse desassombradamente que praticava uma injustiça, pois a muitos fechava as portas do paraíso, os quais no estado religioso se salvariam e ficando no século se perderiam.

É célebre o caso narrado pelo Padre Lancício. No colégio romano estava fazendo os exercícios espirituais um jovem de grande talento. Uma das perguntas que fez ao seu confessor foi se era pecado não corresponder à vocação religiosa. Respondeu-lhe o confessor que em si não era pecado grave, porque se tratava de um conselho e não de um preceito; mas que era por em grande perigo a salvação eterna, como acontecera a tantos que, por não ouvirem o chamamento de Deus, se condenaram. Assim o fez este jovem. Foi continuar seus estudos em Macerata, onde dentro em pouco, começou a deixar a oração e a comunhão, acabando por se entregar à vida desregrada. Não tardou muito que, ao sair da casa de uma mulher sem vergonha, fosse ferido de morte por um rival. Acorreram alguns sacerdotes, mas ele morreu, mesmo diante do colégio, antes que eles chegassem. Com essa circunstância quis Deus dar a conhecer que o castigo lhe adviera precisamente por ele ter desprezado sua vocação.

É notável também a visão que teve um noviço, ao qual como refere o Padre Pinamonti no tratado sobre A Vocação Triunfante – quando meditava sair da religião, Jesus Cristo se lhe mostrou indignado no seu trono e mando riscar o seu nome do livro da vida...

Ele, aterrado, resolveu permanecer na religião. E quantos outros exemplos semelhantes andam narrados nos livros? E quantos míseros jovens não veremos nós condenados no dia do Juízo, por não terem obedecido à sua vocação?
A estes tais, como a rebeldes às luzes divinas, segundo diz o Espírito Santo: “Eles formam parte dos rebeldes à luz, não conheceram os caminhos” (Jo 24,13), é justamente infligido o castigo de perderem a luz. Porque não quiseram caminhar pelo caminho que o Senhor lhes tinha marcado, e meteram pelo que lhes apontava a sua inclinação sem as luzes do Espírito Santo, perderam-se. Eu vos comunicarei o meu Espírito, isto é, a vocação, mas porque faltaram a ela, acrescenta Deus: Mas visto que vos chamei, e vós não quisestes ouvir-me, visto que estendi a minha mão e ninguém presta atenção; e tendes desprezado todos os meus conselhos e não quisestes a minha admoestação; também eu rirei do vosso infortúnio e zombarei quando sobrevier o espanto (Pr 1,23-26). Isto quer dizer que Deus não ouvirá a voz de quem desprezou a sua. Afirma Santo Agostinho: “Os que desprezaram a vontade de Deus que os convidava sentem a vontade de Deus que se vinga”.

Portanto, quando Deus chama ao estado mas perfeito, quem não quiser pôr em grande perigo a salvação eterna, tem que obedecer e sem demora. De outro modo, ouvirá de Jesus Cristo as reprovações e censuras que ouviu o jovem que, ao ser convidado a segui-Lo disse: “Seguir-te-ei Senhor; mas primeiro permite-me ir-me despedir dos de minha casa”. E Jesus respondeu-lhe que não estava talhado para o paraíso: “Ninguém que pôs a sua mão ao arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (Lc 9,62). As luzes de Deus são passageiras e não permanentes; donde veio a dizer São Tomás de Aquino que o chamamento divino para vida mais perfeita deve ser correspondido o mais depressa possível. Debate ele na sua Suma Teológica a questão se se deve entrar em religião sem ouvir o parecer de muitos e sem longa deliberação. E responde dizendo que o conselho e a deliberação são necessários nas coisas duvidosas, mas nesta não que é de certo boa, visto que a aconselhou o próprio Jesus no Evangelho; a vida religiosa é o compêndio dos conselhos de Jesus Cristo.

Caso bem estranho! A gente do mundo quando se trata de alguém que deseja entrar em religião para levar vida mais perfeita e mais segura nos perigos de se perder, dizem que tais resoluções necessitam muito tempo de deliberação antes de se porém em prática, para se certificar se a vocação vem de Deus e não do demônio. Mas já não falam assim, quando se trata de aceitar uma magistratura, um bispado, por exemplo, onde se correm tantos perigos de se perder. Então já não dizem que são precisas muitas precauções para se certificar se aquela é a verdadeira vocação de Deus. Não é esta a linguagem dos santos. São Tomás de Aquino diz que, ainda que a vocação religiosa viesse do demônio, deve abraçar-se como se abraça um bom conselho, mesmo que venha de um inimigo. E São João Crisóstomo, citado pelo mesmo Santo Doutor, afirma que Jesus Cristo quando chama, quer tal obediência de nós, que não demoremos um só instante em segui-Lo (Hom. 14 in Math).

E porque? Porque Deus, quanto mais se compraz em ver a prontidão com que é obedecido, tanto mais abre as mãos e enche de bênçãos a quem assim procede. Pelo contrário, quanto maior for a demora em acudir ao Seu chamamento, menor será a sua generosidade e mais se afastará com as suas luzes. De modo que o chamado dificilmente seguirá a sua vocação e facilmente a abandonará.

Tudo isto levou São João Crisóstomo a dizer que o demônio quando não consegue dissuadir alguém da resolução de se consagrar a Deus, procura ao menos fazer com que ele difira a execução e tem por grande ganho, quando obtêm a dilação de um dia, de uma hora, se alcança ao menos um breve adiamento (Hom. 56, ad pop. Ant.) É que depois de um dia, depois de uma hora, mudando as ocasiões, confia que lhe será menos difícil lograr mais tempo, confia que a alma enfraquecida e menos ajudada da graça ceda de todo e abandone a vocação.

Com estes adiamentos, a quantas almas chamadas por Deus não logrou o inimigo fazer perder a sua vocação! Por esse motivo aconselha São Jerônimo a quem é chamado a abandonar o mundo, nestes termos: “Apressai-vos, suplico-vos, e, em lugar de desatar as amarras que vos prendem ao fundo da barca, cortai-as” (Ad Paul.).

Quer o Santo dizer que, assim como quem se encontrasse preso num barco que estivesse a submergir-se trataria de cortar as amarras e não de as desatar; assim também, quem está no meio do mundo, deve procurar cortar o mais depressa possível os laços que a ele o prendem e unem, para fugir quanto antes do perigo de perder-se, que lá é tão fácil.

Vejamos o que escreve São Francisco de Sales nas suas obras acerca das vocações religiosas, porque tudo ajudará a corroborar o que levamos já dito e o que adiante acrescentaremos.

Para ter sinal seguro da verdadeira vocação, não é mister constância a firmeza que seja sensível, basta que essa constância e firmeza existam na parte superior do espírito; donde não se há de julgar como não verdadeira vocação se, quem foi chamado, antes de se desligar do mundo, deixou de experimentar aqueles afetos e consolações que experimentava ao princípio, chagando até a ver-se invadido de tal repugnância e arrefecimento, que o fazem às vezes vacilar e crer que tudo está perdido. Basta que a vontade fique firme e não abandonar o chamamento divino. Não é preciso mais do que a permanência certa da afeição à vocação religiosa.

Para saber se Deus quer que uma alma abrace a vida religiosa, não é preciso esperar que Ele próprio lhe fale ou mande do Céu um anjo anunciar-lhe a sua vontade. Nem, muito menos, é necessário que se submeta a um exame de dez doutores, para decidir se a vocação é para ser seguida ou não; o que importa é corresponder e cultivar o primeiro movimento de inspiração divina e não desanimar-se e aborrecer-se, se sobrevierem desgostos e arrefecimentos; procedendo assim, Deus se encarregará de que redunde tudo para Sua maior glória.

Não há porque preocupar-se como de onde parte a inspiração: O Senhor tem muitos meios de chamar os Seus servos. Umas vezes, serve-se de um sermão, outras da leitura de bons livros. A alguns chama-os quando ouvem a palavra do Evangelho, como vez a Santo Agostinho e a São Francisco de Assis.

Para com outros, serve-se das aflições e trabalhos que lhes traz o mundo, dando-lhes assim motivo para o deixarem. Ainda que venham para a vida religiosa desavindos com o mundo, nem por isso deixam de se entregar a Deus com franca devoção e vontade, e muitas vezes sucede que atingem mais alto grau de santidade que aqueles que vieram por vocação mais manifestada.

Conta o padre Pratti que um gentil homem montava um dia um belo e fogoso cavalo e procurava dar provas de bom cavaleiro, para agradar à dama a quem cortejava. Ora, sucedeu que numa dessas proezas de cavalaria foi cuspido do cavalo abaixo, caiu no lodo e levantou-se todo sujo e enlameado. Foi tal a sua confusão e vergonha, que naquele mesmo instante resolveu entrar na vida religiosa « ó mundo traidor, - disse ele de si para consigo, - tu fizeste pouco de mim, também eu vou fazer pouco de ti; fizeste-me uma partida, farte-ei outra; não voltarei a fazer as pazes contigo. Vou-te abandonar imediatamente e fazer-me religioso ». De fato entrou em religião e nela vive santamente.

Meios para conservar a Vocação

De modo que quem deseja obedecer à vocação divina, é preciso não só que se resolva a segui-la, mas também a segui-la sem demora e quanto antes para se não expor a perdê-la.

Supondo, porém, que circunstâncias especiais o obriguem a esperar, deve conservá-la com toda a diligência como a jóia mais preciosa que tivesse.

São três os meios para conservar a vocação:
Segrego, oração e recolhimento.

1º - Do Segredo

Antes de mais nada e de modo geral, é necessário guardar segredo para com todos a respeito da vocação, menos com o padre espiritual, visto que, ordinariamente, as pessoas do século não tem escrúpulo nem se coíbem de dizer aos pobres jovens, chamados ao estado religioso, que em toda parte, até no mundo se pode servir a Deus. O que é mais para estranhar é que semelhantes asserções saiam às vezes da boca de sacerdotes, e até de religiosos que, ou entraram em religião sem vocação ou não sabem o significado dessa palavra. É bem verdade que em todo lugar pode servir a Deus quem não é chamado para a vida religiosa; mas quem o é e quer ficar no mundo por seu capricho, dificilmente, como foi demonstrado acima, levará vida regrada e servirá a Deus.

De modo especial, é mister ocultar a vocação aos parentes. Já Lutero era de opinião, como refere Belarmino (Contr. 2 Tom. de manarch, cap. 36, nº 1), que os filhos pecavam entrando em religião sem consentimento de seus progenitores. Dava como fundamento que os filhos são obrigados a obedecer-lhes em tudo. Tal opinião tem sido comumente refutada pelos concílios e pelos Santos Padres.

O décimo Concílio de Toledo no último capítulo diz expressamente que é permitido aos filhos entrarem em religião, desde que tenham ultrapassado os anos da puberdade: "Aos pais será permitido negar aos seus filhos a licença para entrarem em religião até aos 14 anos de idade. Passados os 14 anos, poderão os filhos abraçar licitamente o estado religioso, quer por vontade de seus pais, quer por eleição espontânea".

O mesmo se prescreve no Concílio Tibutirno (can. 24). Esta é a doutrina de Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Agostinho e São Bernardo. É assim que diz São Tomás e outros, servindo-se das palavras de São João Crisóstomo: "Quando os pais impedem o bem espiritual nem sequer se devem consultar" (Hom 84 - in Joan).

Não deixa de haver quem opine que, no caso de um filho chamado por Deus para o estado religioso poder fácil e seguramente obter o consentimento dos seus progenitores, sem correr o perigo de que eles lhe impeça a vocação, seria de aconselhar pedir-lhes a benção. Esta doutrina especulativamente sustentável, na prática acarreta ordinariamente perigos. É ponto que precisa de ser muito bem aclarado para tirar a alguns certos escrúpulos farisaicos. É doutrina assente que na eleição de estado os filhos não são obrigados a obedecer aos pais.

Assim o ensina comumente os doutores como São Tomás nos termos seguintes: Quando se trata de contrair matrimônio ou de guardar castidade ou de matéria semelhante, nem os criados são obrigados a obedecer aos amos, nem os filhos a seus pais.

No que toca ao estado conjugal, o padre Pinamonti no seu tratado sobre A Vocação Religiosa, é do parecer de Sanchez, de koning e de outros teólogos, os quais defendem que o filho é obrigado a pedir conselho a seus pais, pois que nesta matéria eles, sendo mais idosos, tem maiores experiências do que os jovens, e, em assuntos destas natureza, não se esquecem de que são pais.

Mas na questão da vocação religiosa, ajunta avisadamente o mencionado padre Pinamonti, que o filho não é de modo nenhum obrigado a tomar o conselho de seus pais, porque, neste assunto, eles não tem nenhuma experiência, e, por mal entendido interesse, se convertem comumente em inimigos. Como adverte ainda São Tomás ao falar expressadamente da vocação: Muitas vezes aos amigos segundo a carne opõe-se ao nosso proveito espiritual. (2. 2 qu.189 art. 10). Mas querem os pais que os filhos se condenem junto deles do que se salvem, tendo que os deixar seguir o chamamento de Deus. Este procedimento arrancou a São Bernardo a severa exclamação: Oh pai cruel e mãe desnaturada, cuja consolação é a morte do filho, que preferem que morra com eles a que reine sem eles. (Epist. III)

Deus, diz um grande autor, quando chama uma alma para a vida perfeita, quer que ela se esqueça de seu pai, e assim lho faz sentir: ouve, filha, olha; aplica o teu ouvido; esquece do teu povo e a casa paterna (Ps. 44,II). Com esta exortação, ajunta o citado autor, nos adverte portanto, o Senhor e no seguir da vocação religiosa, não tem que intervir o conselho dos pais. Aqui deixo as suas palavras textuais: Se Deus quer que uma alma que Ele chama para si esqueça os pais e a casa paterna, dá a entender com isso que essa alma, chamada por Ele para a religião, não deve fazer entrar o conselho de seus amigos carnais e parentes na execução de tal vocação. (In S.Th. 9,189).

São Cirilo, ao explicar a advertência de Jesus Cristo ao jovem do Evangelho: Ninguém que meteu a mão ao arado e olha para trás está talhado para o reino do Céu (Lc 9,62), afirma que quem está à espera de tempo para cuvir o parecer de seus parentes acerca da sua vocação, esse é precisamente aquele que Senhor declara inapto para o Céu: Olha para trás quem procura dilação para ter oportunidade de consultar os parentes. Nisto se funda São Tomás quando adverte aos chamados para a vida religiosa que se precavenham de se aconselharem com os seus parentes sobre a vocação. Dá consulta esse assunto, em primeiro lugar, se deve afastar os parentes.

Aconselha-se que se discutam os nossos interesses com os amigos. Ora, os parentes, neste caso, não são amigos, mas antes inimigos segundo a asserção do Senhor: Os inimigos do homem são os parentes.

Se para seguir a vocação seria grande perigo pedir conselho aos pais, esse perigo subiria de ponto se se espera-se obter a sua licença quando se tentasse alcançá-la, porque tal diligência não poderá fazer-se sem correr o risco de perder a vocação, no caso de se prever que eles se empenhem em pedi-la.

E a verdade é que os Santos quando foram chamados a deixar o mundo, partiram de suas casas sem o comunicar aos seus pais. Assim o fizeram São Tomás de Aquino, São Francisco Xavier, São Felipe Neri, São Luis Beltrão. E sabemos que o Senhor aprovou estas fugas gloriosas.

São Pedro de Alcântara, fugiu a sua mãe, debaixo cuja obediência ficara depois da morte de seu pai, para entrar num mosteiro. Tendo que atravessar um rio encomendou-se a Deus e de repente viu-se transportado para outra margem.

De igual modo Santo Estanislau Kostka, tendo fugido de casa paterna, o irmão partiu de carroça em sua perseguição. Quando estava próximo a alcançá-lo, os cavalos estacaram e, por mais que o chicotassem, não conseguiram que eles dessem um passo em frente. Voltados que foram em direção à cidade, partiram à desfilada.

A beata Orinja de Valdarno na Toscana, prometida por seu pai como esposa a um jovem, fugiu também da casa de seus pais. No seu caminho teve de atravessar o rio Arno. Chegada que foi diante dele, fez uma breve oração; viu separarem-se as água diante dela, formarem-se como dois muros de Cristal, entre os quais pode passar a pé enxuto.

Por conseguinte, irmão caríssimo, se Deus nos convida a deixar o mundo, tende muito cuidado de não dar a conhecer a vossa resolução a vossos pais. Contentai-vos com ser abençoados por Deus e procurai pô-la em execução, o mais previamente que puderes, sem que eles, o saiba, se não o quereis expor-vos ao perigo de perder a vossa vocação.

Como já salientamos, ordinariamente, os parentes, e até mesmos os pais contraíram a execução do chamamento para a vida religiosa. Chega a suceder, que pais, aliás tementes a Deus e piedosos, se deixam cegar pelo interesse e a paixão a ponto de não terem escrúpulo de impedir, sob vários pretextos e por todos os meios, a vocação dos filhos.

Lê-se na vida do padre Paulo Segneri Junior e sua mãe, senhora de muita oração, não deixou pedra por mover para obstar à vocação religiosa de seu filho.

O mesmo fato se refere na vida de Monsenhor Cavalieri, bispo de Tróia, cujo pai, ainda que senhor de muita piedade, tentou por todos os modos impedir que seu filho entrasse (como de fato entrou) na Congregação dos pios operários, indo ao ponto de instaurar um processo no Tribunal Eclesiástico.

E quantos outros pais e mães, apesar de serem pessoas devotas e de oração ao tratar-se da vocação de seus filhos se transformam como se tivessem possessas do demônio!

É que o inferno para nenhuma outra se arma de ponto em branco, como para impedir a entrada na vida religiosa aqueles que para ela são chamados.

Por isso, repito, tende muito cuidado em não comunicar a vossa vocação aos amigos, os quais não terão escrúpulos, se não de vos aconselhar, ao menos de publicar, o segredo, de modo que os vossos facilmente chegaram aos conhecimento de vossos intentos.

2º- Da oração

Em segundo lugar, é preciso não esquecer que a vocação religiosa apenas por meio da oração se pode conservar.

Quem largar a oração, largará também certamente a vocação. É negócio que requer oração. Por isso, quem se sente chamado por Deus para a vida mais perfeita, nunca deixe de fazer uma hora de oração pela manhã, ou ao menos, meia hora em casa ou na igreja se em casa não puder ter o recolhimento preciso; e outra meia hora antes de se recolher. Não omita de modo nenhum a visita diária ao santíssimo Sacramento e a Maria Santíssima para obter a perseverança na vocação. Comungue três ou, ao menos, duas vezes por semana. O ponto na meditação seja quase sempre a vocação, considerando como fui grande a graça que Deus lhe fez chamando, quanto assegura mais a salvação eterna, se lhe obedecer com fidelidade; em que perigo se põe, pelo contrário, se lhes não obedece. Ponha muito especialmente diante dos olhos a hora da morte, e considera a alegria e a satisfação que então sentirá de ter ouvido a voz de Deus e a pena e remorsos que o hão de torturar, se acabar seus dias no século. Com este propósito ajuntaremos no fim algumas considerações sobre as quais se poderá fazer a oração mental.

Necessário é, por tanto, que todas as orações feitas a Jesus e a Maria, muito principalmente depois da comunhão e durante a visita ao Santíssimo, tenham por fim alcançar a santa perseverança. Quer na oração, quer na comunhão, renovai sempre a doação de vós mesmos a Deus, com essa fórmula: Eis me aqui, Senhor, já não sou meu, sou vosso. Já me entreguei a Vós, a Vós de novo me torno a entregar. Aceitai-me e dai-me força para Vos ser fiel e para me retirar quanto antes para a vossa santa casa.

3º- Do Recolhimento

Em terceiro lugar é necessário o recolhimento e este não se pode ter sem nos retirarmos do trato e divertimentos mundanos. Que é que nos pode enquanto estamos no século, fazer perder a vocação? Um nada. Bastará um dia de diversões: o embuste de um amigo, uma paixão mal dominada, uma afeição desordenada, um temor vão, uma tristeza não vencida. Tudo isto bastará, repito para fazer perder a resolução tomada de retirar-se do mundo e dar-se todo a Deus. Por isso, impõe-se a necessidade de um recolhimento total de um desprendimento de tudo o quanto seja o mundo.

Neste tempo outra não deve ser a vossa ocupação que a oração, a freqüência dos Sacramentos, a casa e a igreja. Quem assim não proceder e se entregar a passa tempos e diversões, tem que se convencer de que perderá a vocação. Ficará com remorsos de a não ter seguido, mas de certo a não seguirá. Quantos por desprezarem este conselho - de se entregar ao recolhimento - perderam a vocação e com ela a alma.
Fonte: A vocação Religiosa, Estimulo a um religioso para o avançar na perfeição de seu estado - por - Santificado Santo Afonso Maria de Ligório

(carta 197) As tentações do diabo, do mundo e da carne - Santa Catarina de Siena



Para Mateus de Orvieto

Saudação e objetivo

Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssimo irmão e filho no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver como pedra firme, e não como folha levada por todos os ventos.
Três perigosas dificuldades
Porque a pessoa que não está alicerçada na rocha viva, que é Jesus Cristo – pondo o seu desejo somente em Deus e não nas realidades transitórias do mundo que passam como o vento – desanima por estar privada da graça divina. A graça conserva a alma, concede-lhe a vida e perfeita iluminação nas trevas, grande paciência, temor de Deus, humildade e amor fraterno pelo próximo. Essa pessoa não se impacienta sob o impacto das tribulações, nem falsamente sente-se feliz ao sopro das consolações espirituais, nem inflada de orgulho por causa da riqueza e da fumaça das honrarias humanas.
Nada disso lhe acontece, porque é firme. Seu alicerce é Cristo crucificado. A pessoa nem se preocupa com o sopro das três ventanias principais, causadas pelo diabo, pelo mundo e pela carne.

As tentações do diabo
Em primeiro lugar, do diabo procede a ventania de numerosas imaginações e tentações. A tentação de vaidade torna o coração leviano, imaturo, com forte desejo de alcançar altas posições no mundo; e que às vezes se apresenta em coloração de virtude. Essa é a pior ventania que se conhece. Somente a pessoa humilde não se deixa enganar por ela. A coloração de virtude, dada pelo diabo, é esta: a pessoa é maldosa e desprovida de virtude, mas tem um começo de desejo das coisas de Deus e dá algum sinal de virtude. Mas é ainda imperfeita, sem conhecimento de si e põe-se a investigar sobre a vida alheia, tanto material como espiritualmente. Então o diabo sugere um julgamento falso. A pessoa começa a julgar maldosamente o próximo, os servos de Deus e os amigos do mundo. E nem percebe o que o faz. Por que não percebe? Porque o diabo disfarçou o seu julgamento com o manto da virtude e a pessoa acha que faz o bem. Parece-lhe obter um duplo efeito, muitas vezes, como de estar fazendo um ato de culto a Deus. Mas engana-se porque age por orgulho. Se ela fosse humilde e se baseasse num conhecimento verdadeiro de si mesma, envergonhar-se-ia de emitir tais julgamentos; compreenderia que impõe regras a Deus. De fato, é o que faz ao criticar os servidores de Deus, ao querer orientar as pessoas segundo suas idéias e não como Deus as chama.
É por isso que a pessoa alicerçada na rocha viva, que é Cristo, oporá resistência a tais atitudes e, com muita humildade, procurará alegrar-se e glorificar a Deus pelos costumes e comportamentos dos seus servos; e, ao mesmo tempo, pedirá à misericórdia divina que olhe com piedade para aquelas pessoas, tirando-as do pecado e reconduzindo-as à virtude. Dessa maneira a pessoa tira uma rosa do espinheiro, conserva pura sua alma, sem dar asas à imaginação e enchendo à memória de fantasias sobre coisas espirituais e materiais. Isso fazem pessoas loucas, tolas e presunçosas que nada viram e investigam comportamentos alheios, de como fazer o bem. Essas se deixam levar pela ventania do diabo, tão perigosa. Ó boca maldita, como envenenaste com teu mau hálito o mundo, as pessoas do mundo e de fora dele, como ficou dito antes. Após julgar mal dentro de si mesma, tal pessoa, vazia põe-se a criticar, escandalizada com as coisas de Deus e do próximo. Uma pessoa assim deve ser evitada com santa prudência.

As tentações do mundo
Outra perigosa e perversa ventania é a do mundo. Consiste no egoísmo desordenado da pessoa complacente consigo mesma e que procura consolações e prazeres. Com o pensamento, ela esconde as trevas, a miséria e a transitoriedade do mundo, imaginando-o belo e agradável. Desse modo engana-se, imaginando que a vida é longa, quando na realidade é breve. Os prazeres, as consolações e a riqueza são vistos como coisas definitivas, e no entanto são mutáveis. Tudo nos é dado como empréstimo, para uso nas necessidades. Uma coisa é certa! Ou tais realidades são tomadas do homem, ou o homem é tomado delas. São retiradas de nós quando às vezes as perdemos, quando alguém no-la rouba ou por outros acontecimentos que as destróem e elas cessam. Digo que nós somos retirados dessas coisas, quando Deus nos chama, separando a alma do corpo. Então deixamos o mundo com seus encantos. E tal separação, nenhuma riqueza e nenhum poder conseguem evitar.
Dessa maneira a alma fraca e cega, que não elevou eu olhar acima da terra, como uma folha vai seguindo a ventania do próprio desordenado amor egoísta por si e pelo mundo. Da sua maldita boca saem, então palavras de inveja contra o próximo e murmuração, com elevada reputação de si. Muitas vezes com ódio e rancor contra o próximo. Muitas vezes, a pessoa se apossa de coisas alheias, com juramentos, perjúrios e falsos testemunho. Chega-se até a desejar a morte do próximo. Tendo o dever de amar todo mundo, a pessoa se transforma num devorador da carne e dos bens do próximo. Inteiramente volátil, poucas vezes completa um ato de virtude começado. A vida foi montada sobre a areia, onde edifício algum pode ser construído, sem logo cair por terra. Tal pessoa não possui a graça divina, perdeu a luz da razão. Caminha como animal, não como ser racional.
Por conveniência e necessidade, precisamos estar alicerçados na rocha viva. As pessoas que nela põem seu pensamento e seu amor não podem ser abaladas nem se deixam abalar por essa ventania maldosa do mundo. Tais pessoas até lhe opõem resistência e se defendem, desprezando o mundo com sua vaidade e seus prazeres. Elas eliminam o orgulho com grande humildade e desejam a pobreza voluntária. E quem possui riqueza e alta posição social, conserva-as, mas com amor e santo temor, como despenseiro de Cristo, socorrendo os pobres, ajudando os servidores de Deus, respeitando-os, compreendendo que eles se dedicam à oração com anseios, suores e lágrimas diante de Deus, a favor de todos. Estes vivem felizes sempre e em todas as situações, uma vez que se libertaram da desordem da vontade e do egoismo. Sendo tão importante esse alicerce na rocha, não se deve esperar para consegui-lo, pois desconhecemos o futuro.

As tentações da Carne
A terceira ventania consiste na tentação da carne. Ela espalha um mau cheiro intolerável, não apenas para Deus, mas também para os demônios, tornando a pessoa bestial. Torna-se como os animais, sem vergonha. Como o porco, a pessoa revolve-se na lama, na lama da desonestidade. Em qualquer estado de vida esteja, arruina-se. Se é casada, envenena o amor matrimonial. O que deve fazer com temor de Deus, ela o faz com amor desordenado e pouco honesto. Essas miseráveis pessoas não pensam na grande dignidade a que chegou a própria carne humana na união com Deus em Cristo. Se refletissem, prefeririam morrer e não se entregarem a tão grande baixeza. Sabes a que ponto chega esse mau hálito, que envenena todos os que de tal pessoa se aproximam? O coração da pessoa se torna suspeito, a língua murmura e blasfema, achando que existe nos outros a mesma coisa que existe nela. A pessoa assemelha-se a um doente, que estragou o próprio estômago. Ela acha ruim, como algo estragado, não somente o alimento normal, mas também aquele que o médico lhe prescreveu. E maravilha-se de que uma pessoa sadia, que come seu alimento, não sinta o mesmo sabor que ela sente. Assim os pecadores, que se entregam ao prazer da carne, arruinam a própria sensibilidade e a da comunidade dos que vivem no mesmo vício, e ficam escandalizados relativamente aos justos. Escandalizam-se até do próprio matrimônio, que Deus lhes deu como condescendência à sua frágil enfermidade, a própria esposa. Tendo um coração desordenado, até o amor da esposa lhe faz mal. Ciúmes e suspeitas fazem tais pessoas julgar má uma pessoa reta, e passam a odiar e desprezar o que deveria ser um justo amor. Em tal pessoa há um modo de ver. É seu olho que está doente. Não fosse assim, julgaria de outro modo. Oh! Quantos defeitos e inconvenientes procedem dessa ventania da carne! É algo que corrói por dentro. Como o mau hálito sai da boca, assim a pessoa julga mal a própria esposa. Disso deriva um outro defeito: se por inspiração divina ocorre à pessoa um bom desejo de corrigir-se e de viver bem o matrimônio, o verme da suspeita já penetrou no seu corpo e apaga o perfume da virtude, e sua podridão renasce. O que antes agradava à pessoa, passa a desagradar-lhe. Não tem constância, nem perseverança na virtude. A pessoa volta atrás, não examina o próprio erro e a própria doença (espiritual). E tudo isso sucede porque falta ao pecador o alicerce na rocha viva ao ser atingido e forçado pela ventania da carne. É preciso que a pessoa se livre do apodrecido alicerce da impureza, fundamentando-se na rocha viva, Cristo. Então, a ventania da carne não a prejudicará. Ao contrário, poderá resistir com a virtude da continência e da pureza, disciplinando a vontade mediante a razão e o desejo santo, dizendo a si mesma: “Envergonha-te minha alma, por enfeares o teu rosto e corromperes teu corpo na impureza. Foste feita à imagem e semelhança de Deus. E tu, carne, foste elevada a uma altíssima dignidade na uniã da natureza divina com a humana (em Cristo) e foste elevada acima de todos os coros dos anjos”. Então a pessoa sentirá o perfume da virtude e o desejo de remediar com a vigília de oração e o conhecimento de si mesma. Ninguém se oponha ao conhecimento de si mesmo, mergulhando a mente em fortes imaginações e movimentos fisicos que ocorreram. O conhecimento de si será uma água que apagará a chma dos movimentos impuros. Que a pessoa não tenha medo de pegar a cruz, nela apoiar-se e navegar com os meios acenados antes, fundamentando-os na rocha viva, com firmeza e perseverança até a morte. Todos percebem que a perseverança é a que obtém a coroa.

Exortação e conclusão
Caríssimo irmão e filho, quero que vos liberteis da falta de perseverança e comeceis a entrar em vós mesmo. Conforme se vê diante de Deus, parece-me que desde algum tempo não pensais em vós mesmos. Tudo isso acontece porque o alicerce não foi bem construído nem fundamentado na rocha viva. Não por outro motivo acontece que os servos de Deus não perseveram; é a falta de perfeitos fundamentos. Como são fracos, desprovidos da virtude da fortaleza e sem a proteção da prática da virtude, ao serem atingidos pelas fortíssimas ventanias do diabo, do mundo e da carne, caem. Por isso, pensando nos remédios para vossas quedas, na necessidade que tendes de tomá-los e de refazer com grande humildade e desapego de vós mesmo o fundamento (da vida espiritual), afirmei que estava desejosa de vos ver como pedra firme, alicerçada na rocha viva que é Jesus Cristo, e não assentada na areia. Espero, na infinita bondade divina, que aceiteis com humildade a procura do conhecimento de vós mesmo e que cumprais a vontade divina e o meu desejo: que recupereis a vida da graça, vos livreis das trevas e tenhais a perfeita iluminação.
Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor.

26 de março de 2014

(carta 272) Resumo do livro "O diálogo" Santa Catarina de Siena

(carta 272) Resumo do livro “O diálogo”



Esta carta foi escrita de próprio punho por Santa Catarina em outubro de 1377. Fala de uma impressionante experiência mística, tida pela santa no dia de São Francisco de Assis. É como um resumo de sua obra prima o Diálogo.

Para frei Raimundo de Cápua
Saudação e objetivo
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da bondosa Maria, caríssimo e bondoso pai em Jesus Cristo, eu Catarina, serva e escrava dos servos de jesus, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver seguidor e amante da verdade, qual verdadeiro filho do crucificado. Ele é a verdade e a flor perfumada na ordem e na hierarquia da santa Igreja, e vós também deveis sê-lo. Ocorre não desanimar e não retroceder por causa das numerosas perseguições. Seria muito louco aquele que desprezasse uma rosa por medo dos espinhos! Quero vos ver como homem forte, sem medo de ninguém. Estou certa de que, pela infinita bondade divina, se realizará este meu desejo.

Necessidade de reforma da Igreja.
Caríssimo pai, revesti-vos de fortaleza na doce esposa de Cristo. Quanto mais ela sofre dificuldades e amarguras, tanto mais a verdade divina promete enchê-la de felicidade e conforto. Sua felicidade será esta: a reforma mediante pastores santos e bons, autênticas flores a dar perfume e glória a Deus pelas virtudes. Essa é a reforma necessária, ou seja, a dos sacerdotes e pastores. A essência dessa esposa não carece de reforma, pois não descrece nem é prejudicada pelos delitos dos ministros. Alegrai-vos, portanto, na amargura! Deus prometeu dar-nos a paz depois da angústia.

Três pedidos a Deus
Tal foi a consolação que recebi ao chegar-me a carta do bondoso papai (2) e a vossa. Sofre muito pelo dano causado à santa Igreja e por causa de vossa tristeza, segundo quanto experimentei dentro de mim no dia de São Francisco. Fiquei feliz, porque me tirastes a preocupação. Tendo lido as cartas e compreendido tudo, pedi a uma serva de Deus (a própria Catarina) que oferecesse lágrimas e suores em favor da santa Igreja e pela doença do papa. Por graça divina, imediatamente cresceram, fora de medida, o desejo santo e a alegria. Aquela serva ficou esperando que amanhecesse para ir à missa, pois era o dia de Maria (3). Chegada a hora da missa, colocou-se no seu lugar, meditando sobre a própria imperfeição e envergonhado-se diante de Deus. Elevada por inflamado anseio, fixou o olhar da fé na verdade eterna e apresentou-lhe quatro pedidos, enquanto se conservava a si mesma e seu diretor espiritual (4) diante da Igreja, esposa de Cristo.
Em primeiro lugar, implorou a reforma da santa Igreja. Então Deus Pai, deixando-se obrigar pelas suas lágrimas e amarrar-se pelo seu desejo, disse: “Minha filha querida, vê como está suja a face da Igreja devido à impureza, egoísmo, orgulho e ganância dos seus ministros.
Derrama lágrimas e suor, hauridos na fonte da minha caridade, e lava-lhe o rosto. Afirmo-te que sua beleza não virá da espada, da violência e da guerra, mas da paz, das orações humildes e contínuas, do suor e das lágrimas, do amor inflamado dos meus servidores. Realizarei teu desejo em grandes sofrimentos, mas nunca vos faltará minha providência”.
Embora tal resposta contivesse a salvação do mundo todo, assim mesmo a oração desceu ao particular e a serva rogou por todo o universo. Então Deus Pai fez-lhe ver o amor com que criara o homem e disse: “Vê como todos me ofendem! Considera, filha, os diversos e numerosos pecados com que me atingem. Sobretudo o infeliz e abominável egoísmo, fonte de todos os males, com o qual envenenaram o mundo todo. Por isso vós, meus servidores, ponde-vos diante de mim, com muita oração. Assim diminuireis a severidade do meu julgamento. Saibas que ninguém pode escapar das minas mãos.
Com o pensamento, olha para minhas mãos”. Em pensamento aquela serva viu o mundo inteiro nas mãos de Deus, que disse: “Deves saber que ninguém escapa de minhas mãos. Por justiça ou por misericórdia, todos estão nelas. Todos os homens me pertencem, todos saíram de mim; amo-os inefavelmente. Usarei de misericórdia graças aos meus servidores”. Então aquela serva sentia-se feliz e ansiosa por causa da chama de amor que aumentava. Mostrava-se grata a Deus. Compreendia que Deus lhe manifestava os pecados dos homens, a fim de que ela se aplicasse com maior empenho e maior amor. De fato, tanto se avolumou a chama sagrada do amor, que nenhum valor atribuía ao suor de água que transpirava, e desejava que seu corpo suasse sangue. Disse ela: “Ó minha alma, perdeste todo o tempo de tua vida! Eis o motivo por que sobrevieram tantos males e danos à santa Igreja e ao mundo, seja em geral como em particular. Por essa razão, quero que remedies agora com suor de sangue”.
A serva, sob o impulso do desejo santo, elevou-se ainda mais e na fé meditava sobre a caridade divina. Ela percebeu e experimentou quanta obrigação temos de procurar a glória e o louvor de Deus mediante a salvação dos homens. Aliás, justamente a isso a verdade eterna vos (5) convida e conclamava em resposta ao terceiro pedido, relativo à vossa salvação. Dizia Deus: “Filha, eu quero que ele procure com todo empenho a própria salvação. Mas isso seria impossível, tanto para ele como para qualquer outra pessoa, sem passar por muitos sofrimentos, conforme eu os permitir. Dize-lhe: “Já que desejas ver-me honrado na santa Igreja, então aceita o sofrimento com amor e paciência”. Será essa a prova de que ele e os demais servidores realmente procuram a minha glória.

Jesus, a ponte para todos
Somente assim ele será um filho caríssimo e repousará sobre o peito de meu Filho unigênito, ponte construída por mim a fim de que todos possais alcançar, experimentar e obter o prêmio pelas fadigas suportadas. Filho, sabeis que a estrada (para o céu) foi interrompida pelo pecado e desobediência de Adão. Ningué mais conseguia atingir a meta; já não se realizava meu plano, segundo o qual criara o homem a minha imagem e semelhança desejoso de que ele alcançasse a vida eterna e participasse e experimentasse minha suma e eterna bondade. Esse pecado deu origem a males e sofrimentos, bem como a um rio cujas as ondas continuamente esbravejam. Para não vos afogardes connstrui uma ponte em meu Filho, pela qual poderíeis passar. Usai vossa fé e vede como do céu a ponte chega à terra. De fato, se tal ponte fosse algo de terreno não possuiria a grandiosidade necessária para transpor o rio e dar-vos a vida. Tal ponte une o céu com a terra. É desse vosso enteresse portanto caminhar por ela procurando a glória do meu nome mediante a salvação dos homens, suportanto numerosas dificuldades na dor, seguindo as pegadas do amoroso e doce Verbo encarnado. Sois meus operários postos a trabalhar na vinha da Santa Igreja, pois desejo ser misericordioso para com o mundo. Cuidai, porém, de não irdes pelo caminho de baixo; não é essa a estrada verdadeira.

Os que vão pelo Rio do pecado
Sabes quais são os que vão por baixo desta ponte? São os iníquos pecadores. Em favor deles eu quero que me implores lágrimas e suor pois jazem nas trevas do pecado mortal. Eles vão pelo rio e se não aceitarem o meu jugo irão para a eterna condenação. Numerosos pecadores por medo do castigo dirigem-se para a margem e abandonam o pecado mortal. Ao sentirem seus males, deixam o rio. Se não forem negligentes, senão adormecerem no egoísmo atingirão a ponte e a ela subirão pelas práticas da virtude. Mas se continuarem no egoísmo e na negligência tudo lhes parecerá difícil. Sem perseverança qualquer evento contrário os fará retornar ao pecado.

Os que sobem pela ponte
Aquela serva vira as diversas maneiras como os homens se afogavam no rio do pecado; por isso Deus Pai lhe disse:”olha agora os que vão pela ponte de Cristo crucificado”. Ela os viu correr rapidamente pois estavam livres do peso da vontade própria. Eram os verdadeiros filhos. Após desprezar a si mesmos, caminhavam inflamados de desejos santo, unicamente a procura da glória divina e da salvação dos homens. Sobe seus pés corria água do rio do pecado, pois caminhavam pela ponte de Cristo crucificado. Caminhavam sobre espinhos, mas estes não lhes causavam dor. Graças a sua caridade, não se preocupavam com os espinhos das perseguições. Pacientemente abandonavam as riquezas, que (também) são espinhos cruéis e mortais para aqueles que as conservam em desordenado amor; abandonavam-nas como se fossem um veneno. Sua única preocupação era alegrar-se na cruz de Cristo, único valor de suas vidas.
Outros caminhavam (pela ponte) por quê? Porque não procuravam o Cristo crucificado na fé, mas consolações espirituais, atitude esta que torna imperfeito o amor freqüentemente paravam, à semelhança de Pedro antes da paixão, no tempo em que somente se preocupava em gozar da companhia de Cristo. De fato quando lhe foi retirada a consolação Pedro fracassou mas ao fortificar-se no desprezo de si, nada mais quiz a não ser o conhecimento e procura de Cristo crucificado. Também os imperfeitos são fracos e não progridem no desejo santo quando lhe são tiradas as consolações do espírito. Nos sofrimentos, tentações do demônio, atrativos humanos, dificuldades pessoais, sentem-se privados do objeto que amavam e desanimam, abandonam a seqüela de Cristo. Por meio de Cristo eles tencionavam seguir Deus Pais no prazer das consolações, visto que no Pai não acontecem dores; mas somente em Jesus.
Aquela serva compreendia que a fraqueza dos imperfeitos só pode ser corrigida se eles seguirem o fim, dizia lhe Deus Pai: “ninguém pode vir a mim a não ser por meio do meu Filho unigênito. Foi ele que reconstruiu a estrada que deveis percorrer. Ele é o caminho, a verdade, a vida. As pessoas que vão por tal estrada conhecem experimentalmente a verdade, saboreiam o amor inefável por ele vivido nos sofrimentos. Sabes muito bem que, se eu não vos tivesse amado, não teria dado este Redentor. Amei-vos desde a eternidade preparei meu filho Unigênito e o entreguei a uma horrível morte na cruz. Por sua obediência e morte destruiu a desobediência de Adão e a morte da humanidade. É nele que os homens conhecem a verdade a seguem e atingem a vida eterna. Percorrendo os caminhos de Crito, chegam ao portal da verdade, atravessam-no e chegam ao oceano da paz entre os bem aventurados. Como vês, minha filha, os imperfeitos não dispõem de outro meio para se fortalecerem. Somente por este caminho o homem se une a verdade e alcança a perfeição a qual o chamei. Todo outro meio é penoso e insuficiente o que faz o homem sofrer é o egoísmo espiritual ou sensível. Quem é altruísta, não sofre senão ao me ver ofendido por tal forma sob a direção da caridade, a pessoa torna-se prudente e jamais se afasta de minha doce vontade”.
Outros homens começava a subir para a ponte Cristo, mas reconheciam o próprio pecado unicamente por medo dos castigos deles decorrentes. Pelo medo, em si imperfeito, deixavam a vida de pecado. Destes, muitos passavam rapidamente do temor servil ao temor santo e caminhavam esforçadamente para o segundo e terceiro estado; muitos outros porém, sentavam-se negligentemente a entrada da ponte no temor servíl haviam começado a caminhar, mas aos poucos e na tibieza, sem nenhum amor pelo conhecimento da própria miséria e da bondade dívina presente neles. Por esta razão, continuavam na tibieza. A respeito destes últimos disse Deus Pai: “vê, filha querida, como é impossível a estes últimos não voltar atrás pois não praticam as virtudes. O motivo é este: o homem não vive sem amor, e seus eforços no conhecer e amar concentram-se no objeto amado. Se não procuram conhecer-se como encontrarão um modo de entender a grandeza de minha caridade? Ignorando, não amam; não amando, deixam de me servir. Todavia se não me amam procurarão amar outras coisas; e retornam ao egoísmo! Essas pessoas procedem como o cachorro que come vomita olha para o que rejeitou abocanha-o e engole novamente. São homens negligentes tibios. Haviam se livrado de seus pecados na confissão por medo dos castigos e com pouco esforço tinham começado a trilhar o caminho de Cristo. Sem progredir, retrocedem. Ao se lembrarem dos pecados, não se recordam dos castigos e voltam ao prazer sensível. Perdem o medo, retornam ao pecado, alimentam-se de egoismo e de impureza. Mercem maior repreensão que os demais pecadores. Sou assim maldosamente ofendido pelas minhas criaturas. Por essa razão, filhos caríssimos, peço que não deixeis diminuir o vosso desejo. Que ele cresça e se alimente. Ergam-se meus servidores, aprendam com Cristo a por nos ombros as ovelhas desgarradas e as carregem com muitos sofrimentos, vigilias e preces. Assim, passarão pelo Cristo ponte e serão esposos. Filhos da verdade. Infundirei em vós a sabedoria e a luz da fé; conhecereis perfeitamente a verdade, atingireis a perfeição”.

Bons e maus pastores
Pai bondoso! A bondade e misericórida divina dignou-se revelar-me seus segredos, coisas que a língua humana não pode exprimir. E que ofuscam a inteligência. Minha capacidade de entender fica empobrecida e meu coração angustiado. A uma só voz clamam as minhas faculdades, desejosas de sair deste mundo imperfeito e ir para a meta final, na degustação da suma e eterna Trindade com os cidadãos do céu! Lá, rendem-se glórias e louvores a Deus, refugem as virtudes, bem como o ardor e a caridade dos autênticos pastores e santos religiosos, que foram neste mundo lâmpadas autênticas no candelábro da santa Igreja, e iluminaram o mundo inteiro. Ó Pai, que diferença entre eles e os pastores de nosso dia! sobre estes últimos lamentou-se Deus Pai, dizendo: “os pastores de hoje assemelham-se a mosquitos, afeios os animais que despreocupados, pousam em alimentos doces, cheirosos, e logo depois saem e vão por-se em cima de objetos apodrecidos e asquerosos. Os ministros de hoje, postos a saborear a suavidade do sangue de Cristo, não lhe dão valor. Ao deixar o altar, guardam o corpo de Jesus e os demais sacramentos preciosos cheios de suavidade insubestituíveis fontes de vida para quem os recebe dignamente, mas logo despreocupados, caiem na impureza do corpo e do espirito. É uma maldade vergonhosa, não somente para mim mas até os demônios sentem nojo de tão miseravel pecado”.

Quarto Pedido
Caríssimo Pai! Após ter respondido as três petições, Deus atendeu a quarta, na qual a serva emplora socorro e providência para um caso particular. Dele não posso falar por escrito; contarei de viva voz, se Deus não me der a graça de sair deste corpo antes de encontrar-vos. Nosso corpo possui uma lei, uma lei perversa que continuamente luta contra o espirito. Sabeís que digo a verdade! Seria uma graça se Deus me tirasse do corpo, como dizia, Deus se dignou responder a quarta petição e ao inflamado desejo daquela serva e disse: “Minha filha, a providência jamais faltará para quem a deseja, isto é, para quem espera em mim com perfeição. Refiro-me as pessoas que realmente me imploram no amor e na luz da fé, e não apenas com palavras. Quem me súplica só com palavras: “Senhor, Senhor”, jamais experimentara minha divindade, minha providência. Não os reconheço. Quem me invoca sem virtudes só o reconheço pela justiça e não pela misericórida, afirmo-te pois que minha providência não falha em favor dos que esperam em mim. Quero porém, que te dirijas a mim na paciência. Eu desejo ajudar estas pessoas e todos os que criei a minha imagem e semelhança num grande ato de amor”.

A ilusão dos pecadores
Obedecendo à ordem divina, a serva olhou com fé para o abismo da caridade divina e compreendeu que Deus é bondade. Bondade suma e eterna, que únicamente por amor criou os homens e os remiu no sangue de Cristo, o qual por amor tudo nos dá. Tanto o sofrimento como o prazer, tudo provém do amor divino como providência em prol da salvação dos homens. Disse Deus Pai: “Tudo isso é comprovado pelo sangue derramado por vós. Todavida os pecadores cegos de egoísmo, impacientam-se contra mim. Para próprio prejuízo e dano, interpretam mal e no ódio tudo o que realizo por amor deles, no intuito de livra-los das penas eternas e dar-lhes o céu. Por que se lamentam de mim? Por que odeiam o que deveriam respeitar? Por que emitem juízos sobre os meus ocultos designios, todos eles rétissimos? Assemelham-se aos cegos que pelo tato, gosto e audição, pretende julgar sobre o bem e o mal, baseando-se no seu conhecimento débil e escasso, recuzando-se a opinião de quem encherga. Parecem ainda com um cego louco que pelo tato falaz, não distingue as cores; ou pelo paladar ignora que sobre o alimento andou um animal imundo; ou pelo ouvido não sabe que o cantor pode dar-lhe a morte. Age deste modo quem não tem fé. Ao sentir o prazer oferecido pelo mundo, julga-o coisa ótima; sem perceber que tal prazer constitui apenas uma venda espinhosa e suja para os olhos da fé. O coração de tais pessoas torna-se imsuportável para si mesmas. Esse amor desordenado, este prazer, parecem agradaveis e bons. Dentro deles porém esta o animal imundo do pecado mortal, que sua a alma. Se o homem em tais casos não se purifica mediante a luz da fé, terá morte eterna. O som do egoísmo é melodioso e faz o homem correr atrás da própria sensualidade. Qual cego, o pecador engana-se com o som e, manietado sera levado para o abismo cegos de egoísmo, cheios de presunção os pecadores não me seguem, apesar de ser eu o caminho, o guia, a vida e a luz. Quem anda em mim, não vai ao escuro, nunca erra. Mesmo que não confie em mim desejo a salvação dos pecadores, tudo lhes envio ou permito por amor. Continuamente se revoltam contra mim e eu pacientemente os suporto; amo-os sem ser por eles amados. Impacientes, perseguem-me com ódios murmurações e infidelidades. Seguindo suas cegas opiniões investigam meus ocultos designios, que são justos e amorosos. Não tem alto conhecimento, por isso julgam erradamente. Quem não se conhece também não pode conhecer-me ou ter noção de minha justiça. Filha queres, que te mostre quanto se engana o mundo a respeito dos meus mistérios? Usa tua fé e olha para mim”.

A providência Divina e o caso particular
A serva olhou para Deus cheia de desejos e lhe mostrou a morte daquele homem, pelo qual ela havia implorado, e disse: é bom que eu saibas? para livrar aquele homem da morte eterna, permitiu o que aconteceu. Seu sangue derramado obteve-lhe a vida eterna no sangue de Cristo. Eu me lembrei do respeito e amor que ele tinha pela mãe de Jesus, A dulcissima Maria. Foi por misericórida que permiti o fato, uma crueldade, segundo o falso julgamento humando. Pensam assim, porque o egoísmo lhes apagou a luz da fé; não vêem a verdade. Se afastassem esta nuvem, a conheceriam e amariam; respeitanto o que aconteceu, teriam o prêmio no dia da colheita final. Apesar disso e de outras coisas, meus filhos realizarei vossos desejos com muitos sofrimentos. minha providência agira sobre os pecadores com maior ou menor eficacia, de acordo com sua maior ou menor confiança em mim. Dar-lhe-eis auxílio até em quantidade maior do que merecem, graças aos desejos santos dos meus servidores que me imploram. Acolho as súplicas daqueles que humildimente oram por si e pelos outros. Convido-te pois a implorar meu perdão pelos pecadores e pelo mundo todo. Ó filhos concebei e gerari o homem novo mediante a luta contra o pecado e através de um grande amor”.

Consolações de Catarina
Caríssimo e bondoso Pai! Ao ver e ouvir tanta coisa da verdade eterna parecia que meu coração se partisse em dois. Morro e não consigo morrer. Tende pena desta pobre filha que vive tão contrariada por causa das ofensas cometidas contra Deus e não tem com que se desafogar. Ainda bem que o Espírito Santo achou uma solução no meu íntimo com sua clemência e no exterior mediante a possibilidade de escrevos ver. Confortemo-nos em Cristo Jesus. Sejam os sofrimentos a nossa consolação. Aceitemos entusiasmados, sem negligências o convite divino. Doce pai, alegrai-vos. Sois convidado com tanto amor! Suportai as dores alegremente, com paciência, sem angústia, caso desejeis ser esposo da verdade consolar minha alma. Não há outro modo de receberdes a graça. Eis porque dizia que desejava vos ver “seguidor e amante da verdade”. Nada mais vos digo. Permanecei no santo e doce amor de Deus.

Como Catarina apreende a escrever
Abençoai fr. Mateus em Cristo Jesus. Esta carta e uma outra que vos mandei foram escritas de próprio punho em ilha da Rocca com muitos suspiros e abundância de lágrimas. Meu olho nem mais enchergava. Eu mesma fiquei cheia de admiração, meditando sobre a bondade e a misericórida de Deus para comigo e para com todos na sua providência. Quanto a mim deu me paz, pois encontrava-me sem nenhuma consolação. como não tivesse apreendido a escrever por ignorância minha, Deus providenciou dando me a capacidade de apreender. Assim decendo das alturas poderia desafogar um pouco o coração, evitando que explodisse. Por uma forma adimiravel a maneira do mestre que ensina a criança com o exemplo, Deus imprimiu (a capacidade de escrever) em meu espirito. Logo que partistes, adormecendo, comecei a escrever com o glorioso evangelista João e com Tomás de Aquino. Perdoai-me se escrevi demais. É que a mão e a língua concordam com o coração. Jesus doce Jesus amor.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...